ARTIGO
Hiperatividade X
Indisciplina: Contribuições para o Cotidiano Escolar
Autoras:
Neiva Terezinha Chaves Leite e Josiane Peres Ferreira
Introdução
No
cotidiano da sala de aula nos deparamos com alunos agitados, que arrancam os
brinquedos de seus colegas, andam de um lado para o outro e não conseguem ficar
muito tempo sentado, no mesmo lugar. Nunca terminam as tarefas solicitadas. Em
algumas vezes chegam a ser agressivos. Esse comportamento, geralmente
confundido com indisciplina, é característico de um distúrbio de atenção que,
de acordo com Gentile (2000), atinge 5% das crianças e adolescentes de todo o
mundo: a hiperatividade. Conhecer os sintomas e aprender a lidar com esse
problema é uma obrigação de qualquer professor que não queira causar danos a
seus alunos. Afinal, a demora em diagnosticar o caso pode trazer sérias
conseqüências para o desenvolvimento da criança.
Esse
artigo busca orientar pessoas, principalmente, pais professores sobre o TDAH.
Ele aborda a história, o que é hiperatividade, seus sintomas, medicamentos,
como prevenir e a intervenção do professor e de profissionais como o psicólogo,
neurologista e o psicopedagogo.
Todavia,
relata como tratar alunos com indisciplina ou falta de limites. Por isso,
muitas vezes cabe ao professor perceber a agitação do aluno. Se ela persistir
deverá procurar ajuda da escola e posteriormente encaminhar para outros
especialistas da área.
Com efeito, observei seis alunos de primeira série com queixa de déficit de
atenção e agitação. Com a ajuda de uma psicóloga realizamos um questionário
elaborado pela psicóloga Edyleine, (2000), TDAH-Escala de Transtorno de Déficit
de Atenção/ hiperatividade para fazer uma previsão do suposto transtorno.
Conforme
relatos da autora só o diagnóstico da escala usada não é o suficiente para
detectar o problema, mas pode ser encaminhada para posterior investigação. Com
o resultado procurei bibliografias para ajudar pais e professores a conviverem
ou amenizarem o transtorno.
Com
isso, o trabalho ficou assim divido: História do TDAH; Conceito do que é
Hiperatividade; Tratamento convencional; Alguns fatos sobre a hiperatividade;
Quadro clínico; Diagnóstico, orientação à escola e prognóstico; Indisciplina da
classe; Metodologia; Resultado e discussão; Sugestões para intervenção do
professor; O papel da psicopedagogia; Conclusão, Referências bibliográficas.
História do TDAH-Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade.
As
primeiras referências aos transtornos hipercinéticos na literatura médica
aparecem na metade do século XIX. Entretanto, somente no início do século XX
começou-se a descrever o quadro clínico de uma maneira mais sistemática.(PETRY,
1999).
Para
Arlete Petry (1999), na década de 1940, falava-se em lesão cerebral mínima. A
partir de 1962, passou-se a utilizar o termo disfunção cerebral mínima,
reconhecendo-se que as alterações características da patologia relacionam-se
mais a disfunções em vias nervosas do que propriamente a lesões nas mesmas. Na
década de 80, com surgimento da terceira edição do DSM-III, (Manual Diagnóstico
e Estatístico de Desordens Mentais), cunhou-se o termo distúrbio de déficit de
atenção, que podia ou não ser acompanhado de hiperatividade. Mas, como
continuou o debate, em 1987, com a organização do DSM-IV, voltou-se a dar maior
ênfase a hiperatividade, modificando o nome da patologia para distúrbio de
hiperatividade com déficit de atenção. Em 1994, o pêndulo voltou-se para o
centro e a patologia passou a ser designada distúrbio de déficit de atenção e
hiperatividade.
Segundo
Nass e Ross (apud, PETRY, 1998) a nomenclatura brasileira mais recente, é
utilizado o termo transtorno em vez de distúrbio, ou seja, transtorno de
déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
A
etiologia para os autores não é específica. Incluem-se causas pré-natais (como
as decorrentes do álcool na gestação, prematuridade), perinatais (anoxia ou
hemorragia intracraniana etc) e pós-natais (seqüelas de doenças no início da
infância, como encefalites, meningites, traumatismo crânio-encefálico etc).
Fatores ambientais decorrentes de baixo nível sócio-econômico podem interferir
na etiologia também.
Segundo
Bierdeman e seus colaboradores (apud, Arlete Petry), os aspectos genéticos são
significantes, principalmente entre os meninos. Eles verificaram que 20% dos
pais e 21% dos irmãos de crianças com TDAH também eram acometidos por esta
afecção.
O Que é a Hiperatividade
A
hiperatividade, segundo Lancet (1998) denominada na medicina de desordem do
déficit de atenção, pode afetar crianças, adolescentes e até mesmo alguns
adultos. Os sintomas variam de brandos a graves e podem incluir problemas de
linguagem, memória e habilidades motoras. Embora a criança hiperativa tenha
muitas vezes uma inteligência normal ou acima da média, o estado é
caracterizado por problemas de aprendizado e comportamento. Os professores e
pais da criança hiperativa devem saber lidar com a falta de atenção,
impulsividade, instabilidade emocional e hiperativa incontrolável da criança.
O
comportamento hiperativo pode estar relacionado a uma perda da visão ou
audição, a um problema de comunicação, como a incapacidade de processar
adequadamente os símbolos e idéias que surgem, estresse emocional, convulsões
ou distúrbios do sono. Também pode estar relacionado à paralisia cerebral,
intoxicação por chumbo, abuso de álcool ou drogas na gravidez, reação a certos
medicamentos ou alimentos e complicações de parto, como privação de oxigênio ou
traumas durante o nascimento. Esses problemas devem ser descartados como causa
do comportamento antes de tratar a hiperatividade da criança
O
verdadeiro comportamento hiperativo interfere na vida familiar, escolar e
social da criança. As crianças hiperativas têm dificuldade em prestar atenção e
aprender. Como são incapazes de filtrar estímulos, são facilmente distraídas.
Essas crianças podem falar muito, alto demais e em momentos inoportunos. As
crianças hiperativas estão sempre em movimento, sempre fazendo algo e são
incapazes de ficar quietas. São impulsivas. Não param para olhar ou ouvir.
Devido à sua energia, curiosidade e necessidade de explorar surpreendentes e
aparentemente infinitas, são propensas a se machucar e a quebrar e danificar
coisas.
As
crianças hiperativas toleram pouco as frustrações. Elas discutem com os pais,
professores, adultos e amigos. Fazem birras e seu humor flutua rapidamente.
Essas crianças também tendem a ser muito agarrado às pessoas. Precisam de muita
atenção e tranqüilização. É importante para os pais perceberem que as crianças
hiperativas entenderam as regras, instruções e expectativas sociais. O problema
é que elas têm dificuldade em obedecê-las. Esses comportamentos são acidentais
e não propositais.
Para
Lancet (1998), a criança hiperativa quando sai com sua família, uma ida a um
parque de diversão ou supermercado pode ser desastrosa. Há simplesmente muita
coisa acontecendo, muito estímulo ao mesmo tempo. Devido à sua incapacidade de
concentrar-se e ao constante bombardeamento de estímulos, a criança hiperativa pode
ficar estressada.
A
criança hiperativa pode ter muitos problemas. Apesar da "dificuldade de
aprendizado", essa criança é geralmente muito inteligente. Sabe que
determinados comportamentos não são aceitáveis. Mas, apesar do desejo de
agradar e de ser educada e contida, a criança hiperativa não consegue se
controlar. Pode ser frustrada, desanimada e envergonhada. Ela sabe que é
inteligente, mas não consegue desacelerar o sistema nervoso, a ponto de
utilizar o potencial mental necessário para concluir uma tarefa a criança
hiperativa muitas vezes se sente isolada e segregada dos colegas, mas não
entende por que é tão diferente. Fica perturbada com suas próprias
incapacidades. Sem conseguir concluir as tarefas normais de uma criança na
escola, no playground ou em casa, a criança hiperativa pode sofrer de estresse,
tristeza e baixa auto-estima.
Um
especialista em comportamento infantil pode ajudá-lo a distinguir entre a
criança normalmente ativa e enérgica e a criança realmente hiperativa. As
crianças até mesmo as menores podem correr, brincar e agitarem-se felizes
durante horas sem cochilar, dormir ou demonstrar qualquer cansaço. Para
garantir que a criança realmente hiperativa seja tratada adequadamente e evitar
o tratamento inadequado de uma criança normalmente ativa é importante que seu
filho receba um diagnóstico preciso.
Segundo
a equipe abc de saúde, durante a primeira ou a segunda consulta médica, a
criança hiperativa pode ser comportar de forma quieta e educada. Sabendo o que
é esperado, pode se transformar em uma criança "modelo". Devemos
estar preparados para descrever, de forma precisa e objetiva, o comportamento
da criança em casa e nas atividades sociais. Se uma criança está encontrando
dificuldade na escola, o professor que converse com o médico ou envie-lhe um
relatório por escrito. Pode ser preciso várias consultas antes que o
comportamento hiperativo torne-se aparente. Não devemos nos preocupar, pois um
especialista em crianças, geralmente, pode realizar um diagnóstico preciso.
Ao
tratar da criança hiperativa, a nossa meta é ajudá-la a fazer o melhor
possível, em casa, na escola, e com os amigos. Lembremo-nos sempre de que a
criança estará lutando com todas as forças para superar uma deficiência do
sistema nervoso. É preciso dizer aos pais que não se sintam envergonhados ou
culpados quando seu filho não se comportar bem.
Os
pais da criança hiperativa merecem muita consideração. É preciso muita
paciência e vigor para amar e apoiar a criança hiperativa em todos os desafios
e frustrações inerentes à doença. Os pais da criança hiperativa estão sempre
preocupados e atentos, sempre "em alerta". Conseqüentemente, é fácil
sentirem-se cansados, abatidos e frustrados, às vezes. É de importância vital
para os pais da criança hiperativa serem bons consigo mesmos, descansar quando
apropriado, além de buscar e aceitar o apoio para eles e para o filho.
Tratamento Convencional
Conforme
Abrichaim (2001) antes de qualquer tratamento, um exame físico deve se feito
para descartar outras causas para o comportamento da criança, tais como
infecção crônica do ouvido médio, sinusite, problemas visuais ou auditivos ou
outros problemas neurológicos.
O
metilfenidato é o medicamento mais comumente receitado para hiperatividade. É
um estimulante que tem efeito paradoxal de acalmar o sistema nervoso e aumentar
a capacidade da criança hiperativa de prestar atenção. Contudo, os pais não
devem deixar de verificar com seu médico antes de parar de dar esse medicamento
a seu filho.
Conforme
Abrichaim (2001), a tioridazina é um tranqüilizante ao qual se pode recorrer se
a criança for extremamente agressiva e, nesse caso, apenas nas situações mais
difíceis.
Na
maioria das circunstâncias, o medicamento para a hiperatividade pode ser
interrompido durante o verão e retomado quando as aulas começarem novamente,
após as férias. Essa conduta pode limitar alguns dos efeitos colaterais
prolongados desses medicamentos. Após um verão sem medicamento, talvez seja
útil deixar que o aluno freqüente as primeiras semanas de aula sem qualquer
medicação. Considere esse período como um teste para determinar se a criança
pode passar sem o medicamento. (Os pais devem conversar sempre com o médico
antes de descontinuar qualquer tratamento, durante qualquer período de tempo).
Quanto
à prevenção, Abrichaim (2001), diz que é importante ressaltar que durante a
gestação, a mãe deve manter-se longe da exposição de chumbo ambiental ao mínimo
possível e eliminar o álcool. O dois tem sido relacionado a hiperatividade.
A
futura mamãe não deve deixar que seu filho se exponha ao chumbo. As fontes mais
comuns de exposição ao chumbo são tinta à base de chumbo, água potável e
cerâmica mal esmaltada.
Alguns fatos sobre a Hiperatividade
A
equipe abc de saúde relata que embora muitos pais de crianças enérgicas
perguntem aos médicos sobre a hiperatividade, ela não é problema comum. De
acordo com um artigo publicado no British Journal of Psychiatry, apenas 3% das
crianças são realmente diagnosticadas com a desordem do déficit de atenção. A
hiperatividade é dez vezes mais comum nos meninos do que nas meninas.
A
causa ou causas exatas da hiperatividade é desconhecida. A comunidade médica
teoriza que a desordem pode ser resultado de fatores genéticos; desequilíbrio
químico; lesão ou doença na hora do parto ou depois do parto; ou um defeito no
cérebro ou sistema nervoso central, resultando no mau funcionamento do
mecanismo responsável pelo controle das capacidades de atenção e filtragem de
estímulos externos. Metade das crianças hiperativas tem menos problemas
comportamentais quando seguem uma dieta livre de substâncias como
flavorizantes, corantes, conservantes, glutamato monossódico, cafeína, açúcar e
chocolate.
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