Deixar de conceber o
aluno indisciplinado como problema
Segundo SILVA (2010),
alguns educadores já ouviram ou até mesmo devem ter pronunciado que determinado aluno indisciplinado “é
muito inteligente”, por esta razão sempre é o primeiro a terminar as atividades
propostas. Esse tipo de aluno acaba ficando sem fazer nada, por longo tempo,
perturbando os outros, sai da sua cadeira todo momento procurando tirar a
concentração dos colegas em momentos de distração do professor.
Contudo, seguindo a linha de raciocínio de que
localizar o problema na educação e no amadurecimento dos alunos é, na concepção
de SILVA (2010), considerado é equivocado. É claro que temos plena consciência da
dificuldade enfrentada na sala de aula com turmas algumas vezes com mais de 40
alunos por sala de aula, em ambientes muitas vezes precários. Todavia, quando
os professores se utilizam das tais justificativas, não levam em conta que o problema
está, justamente, na politica educacional orientadora e não no fato determinado
de o aluno ser mais ou menos rápido na consecução das atividades.
Além disso, outro ponto
que influencia na produção da indisciplina é o relacionado ao fator de que os
conteúdos ministrados estão aquém ou além da capacidade dos aprendizes. Isso
nos revela a outro engano: o de que o aluno deve ir ao encontro do educador-
ideia central da pedagogia tradicional. Criança ou adolescente não devem ir a encontro da escola e, nem muito menos, das expectativas dos professores. Mas
isso não implica dizer que o professor fique subordinado ao aluno. Pois se
seguirem esse caminho, não estarão contribuindo para o desenvolvimento de si e
dos discentes.
Vale destacar que o
papel da escola é estar preparada para receber o aluno e não o contrário. Apesar de todas as pressões, as crianças e os
adolescentes não podem e nem devem ser responsabilizados pela indisciplina. O
problema não está neles e muito menos é deles. Com isso, deve voltar-se para a
política educacional, pois ela considera a realidade partindo, assim, de um
modelo perfeito de crianças e alunos.
Enfim, é importante
deixar de achar que o aluno indisciplinado, violento, com dificuldades de
concentração, é um problema. A superação de tais pontos passa pela compreensão
de que, mais do que problemas no processo ensino/ aprendizagem, eles são
indicadores de como está ocorrendo a dinâmica escolar formal e, muitas vezes,
tornando-se instrumentos de solução. Contudo, seria melhor pensar em mudar a
maneira como o professor amiúde vê o aluno, considerando este muito ou pouco
inteligente e “imaturo” ou excessivamente “maduro”.
Referência
LA TAILLE, Yves de; SILVA, Nelson
Pedro; JUSTO, José Sterza. Indisciplina/Disciplina:
ética, moral e ação do professor. Porto Alegre: Mediação, 2010.